Alguns problemas como a falta de mão de obra e a insegurança de retorno ao trabalho presencial continuarão presentes.
Apesar das esperanças de muitos trabalhadores, o retorno ao trabalho presencial em tempo integral parece pouco provável devido ao aumento de casos provocados pela variante ômicron, do coronavírus.
Especialistas que estudam emprego e ambiente de trabalho identificaram algumas tendências que já estão moldando a forma de trabalho em 2022 — e podem ser apenas uma janela para o futuro da vida no escritório.
O anseio por semanas de trabalho mais curtas e menos horas de trabalho vem ganhando impulso em todo o mundo. Empresas e governos já estão explorando essa possibilidade.
É necessário reorganizar as estruturas do nosso tempo de trabalho, segundo Abigail Marks, professora de futuro do trabalho da Faculdade de Administração da Universidade de Newcastle, no Reino Unido.
Jornada de trabalho
A semana de trabalho de 40 horas, das 9 às 5, surgiu durante a Revolução Industrial — a última mudança dramática do trabalho — mas não é mais sustentável, segundo ela, devido ao “ritmo crescente de trabalho exigido pelos programas de videoconferência e pela necessidade de presença online contínua”.
Para ela, as empresas e os legisladores estão dispostos a explorar medidas que possam reduzir a sobrecarga dos trabalhadores, esperando ainda manter esse aumento da produtividade. “A solução constantemente mencionada [para isso] é a semana de trabalho de quatro dias. E menos horas de trabalho podem significar melhor saúde mental e equilíbrio entre a vida e o trabalho para muitos trabalhadores”, explica.
Embora aparentemente haja esperança de que a semana de trabalho de quatro dias decole em 2022, segundo Marks, medidas como essa não serão estendidas a todos os trabalhadores. Ela ressalta que a mudança para semanas de trabalho mais curtas poderá beneficiar apenas alguns funcionários.
“A semana de quatro dias pode privilegiar um pequeno grupo de funcionários administrativos, deixando de beneficiar muitos trabalhadores mal remunerados e com poucas qualificações que não terão a segurança contratual, nem o apoio financeiro, para trabalhar quatro dias por semana”, afirma Marks.
Exemplo disso, são os trabalhadores da área de TI ou aqueles que ganham por hora, que talvez não possam reduzir suas horas de trabalho.
Marks está entre os especialistas que afirmam que será um desafio em 2022 lidar com a potencial desigualdade que será escancarada entre os que podem beneficiar-se com a flexibilidade e aqueles que não conseguem — especialmente quando os apelos por maior flexibilidade e menos horas de trabalho somente aumentam.
“Neste ano, poderemos ter mais divisões na sociedade”, acrescenta ela. “Os funcionários em alta procura, como cientistas de dados, e os trabalhadores com apoio governamental, incluindo servidores civis de alto escalão, [poderão ter] horas [de trabalho] reduzidas, enquanto os demais de nós ainda permanecemos sobrecarregados de trabalho.”
Falta de mão de obra
Outro ponto em destaque será a continuidade da falta de mão de obra e dificuldades para contratação.
“Os fatores que causaram essa situação ainda estarão presentes — a pandemia, aposentados, pais que ficam em casa e [por outro lado] aumento das exigências dos clientes que as empresas precisarão atender”, afirma.
Isso significa que os empregadores podem precisar adotar táticas para contratar funcionários — e mantê-los na empresa — diferentes das usadas no passado.
Segundo Alison Sullivan, gerente sênior de comunicação corporativa do site de empregos Glassdoor, salários maiores, crédito estudantil e expansão da licença-maternidade são possíveis benefícios que os empregadores podem agregar para atrair os talentos em 2022.
Além disso, a tendência é priorizar a saúde mental dos trabalhadores. Afinal, com o burnout (esgotamento profissional) e o boreout (tédio no trabalho), cada vez mais trabalhadores estão desistindo e deixando seus empregos (ou pelo menos pensando em pedir demissão).
Retorno ao trabalho presencial
Muitos analistas estavam prevendo um movimento de retorno ao escritório no início de 2021, quando as vacinas se tornaram mais amplamente disponíveis — mas essa previsão continua sendo alterada. Variantes como a delta prolongaram as preocupações com a saúde pública e o trabalho remoto continuou. Reuniões no Zoom permaneceram o padrão diário para milhões de trabalhadores em todo o mundo.
Embora alguns avanços pareçam mover-nos de volta para algum tipo de normal pré-pandêmico — como vacinas, novas medicações de combate à covid-19 e períodos mais curtos de isolamento obrigatório, com os funcionários voltando ao trabalho mais rapidamente —, sabemos que é impossível prever o futuro. E a chegada da variante ômicron acentuou isso ainda mais, pois ela nos fez lembrar que tudo pode mudar em um piscar de olhos.
É por isso que os especialistas afirmam que é melhor manter expectativas baixas em 2022 — e, enquanto isso, prosseguir caminhando rumo ao que achamos que será o “normal”.
“Precisamos disso, mesmo com a falta de consistência e previsibilidade […] Sabemos que iremos começar, parar e iniciar de novo”, afirma Kanina Blanchard, professora de administração da Universidade do Oeste em Ontário, no Canadá.
Para ela, o certo é que os interesses da saúde pública continuarão a dominar a agenda em 2022. E também temos outra certeza: “que a vida será maluca e confusa”, conclui Blanchard.
Com informações do Correio Braziliense e BBC Worklife